A propósito deste dia, deste lugar e desta situação, a minha amiga Carla Silveira escreveu um post delicioso em que dizia que um Urbansketcher é um pedinte. Pede que não o pisem, que não tropecem nele, pede que não sujem o chão das cidades onde nos sentamos, pede que não nos expulsem de sítios. Um urbansketcher só pede para passar despercebido... bem, nem todos.
Quando escolhemos um lugar para desenhar, somos umas espécie de cães à procura do melhor pneu de carro para urinar. Farejamos e roçamos-nos nas paredes e tudo. Não temos vergonha alguma, metemos conversa com quem já está no chão a desenhar, elogiamos-lhe o spot, invejosos daquele pedacinho de lajedo de pedra.
Este desenho foi feito na Ribeira do Porto, este Sábado, hiper animada de gente e músicas descontroladas que saiam de todos os sítios. Farejei os cantinhos todos, e achei que não haveria problema em sentar-me, confortavelmente, num assento de uma vespa, estacionada junto da parede. Comecei o desenho, e daí a nada, um rapaz chegou-se "à minha beira" apontando-me o dedo indicador que abanava de um lado para o outro:
"Esta moto é sua?", perguntei.
"Hã-hã", disse-me sem tirar os óculos de sol dos olhos.
Pedi muita desculpa, envergonhado, saindo de mansinho daquele assento fofinho em pele preta. Sentei-me no chão, a pensar no atrevimento que tinha atravessado a minha mente.
E é isso, um urbansketcher é um pedinte e ao mesmo tempo um malandro.
In this Saturday, about the place and the situation, my good friend Carla Silveira wrote a delicious post saying that an Urbansketcher is beggar. We asked not to step on us, or stumble, a not to put garbage on the floor where we sit, etc. An urbansketcher only ask to be unseen... well, not all.
When we chose a place to draw, we are a kind of dogs, looking for the best tire to urinate. We smell and we touch the walls. We have no shame, we spoke with others already on the floor, praise him the spot, with envy of that smal sqm of stone.
This drawing was done in Oporto Ribeira, this Saturday, hyper animated with uncontrolled music and people, coming from everywhere. I sniffed all places, and I thought there would be no problem if I sit comfortably in a seat of a scooter parked next to the wall. I started the drawing, and then a young man came up close to me, finger pointing the indicator moving from one side to the other:
"This motorcycle is yours?" I asked.
"Hã-hã," he said.
I said sorry, ashamed. I sat down in the floor, thinking on the wrong idea that had crossed my mind.
And that´s it, a urbansketcher is a Beggar and a scoundrel.
Créditos fotográficos: Carla Silveira