O último dia em Manchester.
À semelhança do que fiz depois de Paraty, volto a começar pelo último desenho, ainda que por razões diferentes.
Imagino que cada um o sinta de forma diferente, mas eu apetece-me descrever esta experiência como um verdadeiro sonho, em que sonhamos de olhos abertos, em permanência, desde o primeiro momento em que acordamos, até aquele em que voltamos a cair na cama de hotel, exaustos e de coração cheio. Andamos ali, de caderno na mão e olhos esbugalhados, na busca das melhores experiências da nossa vida de sketchers. E de conhecer pessoas; e de aprendermos coisas novas; e de também ensinarmos coisas aos outros. É o deslumbramento total.
Depois da festa de encerramento no Sábado, o Domingo era o dia da descompressão e da depressão.
Aparentemente tudo tinha acabado. Talvez aparentemente, que isto demora a passar, e talvez não passe verdadeiramente, não voltamos a ser bem como éramos. Acho que voltamos melhores, não a desenhar, mas em outras coisas - eu sim.
No Domingo tinha de comprar duas camisolas do Manchester United, de tamanhos pequeninos. Saí de manhã, fez-me companhia o meu amigo Sílvio, Argentino a viver em São Francisco, e que já tinha conhecido em Paraty. Comprei as camisolas, num centro comercial bem perto da Catedral, onde ainda estavam uns resistentes de elite a desenhar. Bebemos um chá de menta, despedimos-nos pouco antes do almoço, com um abraço de até breve, que o Sílvio regressa a Lisboa ainda este mês. Passei pelo festival Comic Con, antes de me encontrar com o Pedro Loureiro, o Luís Frasco e o Vicente, para almoçar. Comemos tapas num restaurante Espanhol, antes do último desenho na Catedral de Manchester. Eram cinco da tarde, tínhamos de regressar: a pé até ao Hotel, onde deixáramos as malas, de comboio até ao aeroporto, e de avião low cost até a casa.
Fiz o último desenho no avião. Achei que o Vicente merecia estar nesse último desenho. Pela sua paixão e dedicação ao desenho em cadernos, por ser meu amigo de verdade, pelo seu sucesso enquanto formador estreante no Simpósio. Mereceu tudo o que de bom lhe aconteceu nestes dias. Parabéns Vicente!
Terminei o desenho enquanto aterrávamos, escrevi o que ia ouvindo, conformado com tudo. Voltei a abrir o caderno já nas chegadas, para uma última foto entre todos. Ainda estava a sonhar, mas agora, e pelo cansaço, com os olhos menos esbugalhados que nos dias anteriores. Os olhos cansados deixaram, por breves minutos, de olhar para a mala, que tinha desaparecido, roubada, quando a quis apanhar. Fiquei sem as roupas, dois livros, uma caneta Lamy, a sacola preta que nos deram no primeiro dia, e o desenho original da TIA, que comprei por 50 libras no leilão. Comigo, numa mochila pesada, estava quase tudo o que me interessava verdadeiramente: os meus cadernos. E as duas pequenas camisolas do Manchester United...
The last day in Manchester.
Like what I did after Paraty, I´ll start with the last drawing, although for different reasons.
I imagine that each one feel differently this Simposium thing, I describe this experience as a dream, but with open eyes, at all times, from the moment we wake up, until we got back to fall in the hotel bed, exhausted but happy. Walking everyday, sketchbook in one hand and wide eyes wide searchig the best experiences in our sketchers life. And to meet people; and to learn new things; and also teaching things to others. The total wonderment.
After the closing party on Saturday, Sunday was the day of decompression and depression.
Apparently it was all over. Perhaps apparently, because things don´t finish like that, it takes time to pass. I think we came back better from this place, not in terms of drawings, but in other things - at least I do.
On Sunday I had to buy two official Manchester United shirts, of tiny sizes. I left in the morning, with my friend Silvio, from Argentina but living in San Franscisco, whom I met in Paraty. I bought the shirts, in a shopping center close to the Cathedral, where they were still some elite resistant urbansketchers. We drank mint tea, said goodbye just before lunch, and we gave a hug. I went trough the festival Comic Con before I join again with Pedro Loureiro, Luís Frasco and Vicente for lunch. We ate tapas in a Spanish restaurant, before the final drawing in the Manchester Cathedral. It was five o-clock in the afternoon, we had to come back: walking to the hotel, where we had left the bags then by train to the airport, and a plane back home.
I did the last drawing on the plane. I thought that Vicente deserved to be in the last drawing. For his passion and dedication to the drawing in sketchbooks, for being my true friend, for his success as an instructor in the symposium. He deserved all good things that happened to him these days. Congratulations Vincente!
I finished the drawing when we were landing, I wrote what I was listening, resigned to the circumstances. I opened the sketchbook again in the arrivals for one last photo with the group. I was still dreaming, but now tired, my eyes were less open than the previous days. My tired eyes were probably closed for a few minutes, not looking at the suitcase, which had disappeared, stolen, when I wanted to catch it. I loose my clothes, two books, a Lamy pen, the black goodies bag from the first day, and the original drawing from TIA, that I bought for 50 pounds at the silent auction. With me, in a heavy backpack, I had almost everything that interested me truly: my sketchbooks. And the two tiny Manchester United shirts...
Relato emocional e uma boa forma de contar esse "sonho", de trás para a frente. Posso ler todos os posts sobre o symposium mas só estando lá é que se sente. Um dia irei.
ResponderEliminarBelo retrato do Vicente no cansaço dos dias bem passados. E o roubo da mala até a mim me está a custar ler o que te aconteceu. Que frustração. Aguardo por ver os outros desenhos e estórias. Abraço!
Roubaram-te as malas em Lisboa!?!?!? Epá, nem quero imaginar a aflição no momento...
ResponderEliminarPode ser que a mala apareça mais tarde. Participaste do ocorrido na PSP?
Bolas...
À parte isso, o teu relato é incrível de intensidade. É isso mesmo!
Força aí!
Roubaram-me a mala, é verdade, que me distraí na hora das despedidas da malta. Sim, fiz logo participação na esquadra do aeroporto, saí de lá passavam das duas da manhã de Domingo.
EliminarJá ultrapassei o tema, a roupa roubada fui comprar tudo igual, com a vantagem que agora está tudo em saldos...
Abraço!