03/09/2014

A pianista

A Rita Sabler nasceu em São Petesburgo mas vive em Portland, nos Estados Unidos. Conheci-a no último dia do simpósio na Praça da Bandeira, onde eu fazia o workshop da Lynne Chapman e ela o da Nina Johansson. A Rita foi provavelmente uma das pessoas mais encantadoras e talentosas que conheci em Paraty. É designer, e para além dos desenhos fantásticos que faz em cadernos, é também pianista!
Podem ver os desenhos AQUI e o restante trabalho AQUI.

Depois da foto de grupo, entregámo-nos à tarefa de fazer o último desenho do simpósio, no Largo da Matriz. Já passava das cinco da tarde e começava a escurecer, não havia tempo a perder. Deambulei pelo meio da gente, à procura de um assunto para desenhar. Sentada no meio da relva, e debaixo de uma das enormes árvores daquela praça, voltei a encontrar a Rita, estava a desenhar um casal de paratianos que namoravam tranquilamente num banco de jardim. Sentei-me no chão, ao seu lado, e comecei a desenhar. Pelo meio disse-lhe que tinha achado este encontro tão extraordinário que apostava que no próximo ano iria outra vez, fosse na Antártica ou na Lua. Perguntou-me o que eu apostava. Disse-lhe que lhe oferecia um desenho se não fosse.

Depois da festa de encerramento, que terminou depois das nove e meia, saímos num grupo relativamente modesto, talvez dez ou doze pessoas. Ia torto de tão divertido, a conversar com o José Marconi e a Lia, dois sketchers de Curitiba simplesmente deliciosos. A determinada altura separámo-nos, uns foram para a Feira da Nossa Senhora do Rosário, nós fomos para um bar afastado do centro da cidade para dançar forró. Desculpa Marconi, acabei por não me despedir de vocês.

No bar Gamboa voltámos a beber cachaça, cada shot a sete reais. O Sílvio também foi connosco, um argentino que nesse dia fazia 48 anos e transbordava energia. Prometeu-nos que viria no próximo ano a Lisboa para desenhar connosco no Santo António, e eu acho que vem mesmo. Voltei a abrir o caderno para fazer um desenho, sentado num banquinho pequeno, encostado à parede e bem próximo do balcão. Desenhei o Sílvio e a Rita, que também estava connosco e desenhava algo ou alguém, não me dei conta. No final ela pediu-me o desenho. Pensei que poderia pagar adiantado, não vá dar-se o caso de para o próximo ano não poder ir ao Simpósio, e assim perder a aposta. Olhei em frente e vi o João Catarino a esbracejar, aos pulos no meio de gente e a gritar:
"Não rasgues a folha, não rasgues a folha! Olha que é um sacrilégio!"
Não fiz caso, arranquei a página do meio, aquela com a cosedura, num puxão decidido e sem sofrimento. Ofereci-lhe o desenho, enquanto o João balbuciava entre dentes e empurrando os óculos para cima:
"O Mário vai saber disto, o Mário vai saber disto... e tu estás lixado..."
A aposta está paga adiantada, mas tenho a certeza que no próximo ano vou outra vez...
 
Rita Sabler was born in St. Petersburg but lives in Portland, USA. I meet her on the last day of the symposium on Praça da Bandeira, where I was doing the workshop of Lynne Chapman and she was doing Nina´s. Rita was probably one of the charming and most talented people I met in Paraty. It's designer, and beyond the fantastic drawings in her sketchbook, she is also a pianist!
You can see her drawings HERE and the remaining work HERE.

After the group photo, we give ourselves the task of making the final drawing of the symposium, in Largo da Matriz. It was after five o'clock and it was getting dark, there was no time to lose. I walked  through the people, looking for a subject to draw. Sitting in the middle of the grass, and under one of the huge trees from the plaza, I saw Rita again, she was drawing a couple of paratianos who peacefully were dating in a garden bench. I sat on the floor beside her, and started drawingIn the conversation I told her that I found the meeting so extraordinary that I bet that next year I would go again. No matter if in Antarctica or in the Moon. Asked me what I bet. I said I´ll give her a drawing if I failed.

After the closing ceremony, which ended after nine and a half, we left in a relatively small group, maybe ten or twelve people. I was so fun talking with José Marconi and Lia, two sketchers from Curitiba simply delicious. At some point we split up, some went to the Feira da Nossa Senhora do Rosário, and we went to a bar away from the city center to dance forró. Sorry Marconi, I ended up not saying goodbye to you.

Gamboa was the name of the bar we went back to drink cachaça, each shot seven reais. Silvio was also with us, an Argentine who was celebrating is 48th anniversary and has an overflowing energy. Promised us to come next year to Lisbon to draw with us in San Antonio, and I think it will come. I opened the sketchbook to make a drawing, sitting on a small stool, leaning against the wall right next to the counter. I drew Sílvio and Rita, who was also with us drawing something or someone, I did not realize. At the end she asked me for the drawing. I thought I could pay upfront, in the case I failed for next year Simposium, losing the bet. I looked ahead and saw  João Catarino with his arms on the air, pounding in the middle of us and shouting:
"Do not rip the sheet, do not rip the sheetIt´s a sacrilege."
I ignored, ripped the page from the middle, the one with the lacing, with a determined tug and without suffering. I offered her the drawing, while João babbled between teeth pushing up his glasses up:
"Mario will know this, Mario will know it ... and you're screwed ..."
The bet is payed in advance, but I´m pretty sure I´ll go next year again...
 

 
 

9 comentários:

  1. ahahahah O melhor é o Mário saber logo antes que alguém lhe vá contar ;-)
    As melhores histórias para o depois! Que bom! :D

    ResponderEliminar
  2. Nota-se que mudaste. Os desenhos estão ainda mais soltos e descomprometidos. As histórias estão cheias de paixão e entusiasmo. Transmites essa alegria de tal modo, que quando acabo de ler as tuas reportagens sinto "aquele" sorriso nos lábios. Obrigado por nos levares contigo nas tuas viagens. Não pares escrever. Não pares de desenhar.

    ResponderEliminar
  3. :)
    Quando o motivo é este não há como hesitar!
    Rasgar a folha para oferecer a alguém é sempre um momento alto da vida de um sketcher.
    Para o ano não posso faltar!

    ResponderEliminar
  4. Talvez ela passe por cá e traga a tal página...

    ResponderEliminar
  5. Excellent report Nelson. I'm so glad you came to Paraty! Was a pleasure to meet you and sketch with you. Until next time ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Jessie, thanks a lot, I´m glad you like it and it was nice to finally meet you in person.
      My next post will talk about it...
      :)

      Eliminar
  6. É fantástico usufruir desta nova dimensão que acrescentas aos desenhos - seja o que neles escreves seja as histórias em que os contextualizas (e é muito bom também perceber o gozo que te está a dar a escrita).

    ResponderEliminar
  7. Adorei a tua espontaneidade! A tua prontidão demonstra bem a tua sensibilidade! És muito corajoso! :)

    ResponderEliminar